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O que aprendi em um final de semana

Já imaginou quanta coisa você pode aprender em apenas um final de semana?

Hoje foi o último dia do curso Lean Startup Machine – LSM aqui no Rio e já estou no aeroporto voltando pra Brasília, amanhã cedo começa outro curso, o de Certified Scrum Product Owner.

O que é o LSM? É uma maneira de você testar uma ideia rapidamente e com poucos recursos. É uma maneira de praticar os princípios de Lean Startup. Sua ferramenta principal é o Validation Board, que achei a melhor com que já trabalhei e que pode ajudar bastante os empreendedores que estão em busca de construir algo que as pessoas realmente querem e vão usar.

Definimos várias hipóteses ao longo das últimas 48 horas e fomos pra rua entrevistar as pessoas pra testa-las.

Tudo que vou listar como aprendizado, a seguir, não são verdades, mas apenas indícios de um comportamento que pode se repetir em escala. É muito mais qualitativo do que um estudo quantitativo. Serve como um norte. É um ponto de partida e sugiro que antes de aceitar como válidas as afirmações a seguir, que seja feito um estudo quantitativo também. Durante as entrevistas, o que pudemos aprender foi:

Aprendizados da primeira entrevista, de 12h50 às 13h50: 11 entrevistados na Favela da Rocinha:

  • As pessoas estão insatisfeitas com a situação do país
  • As pessoas sabem que querem melhoria na saúde, educação, transporte e corrupção
  • A saúde foi sempre o principal problema apontado pelos entrevistados
  • Dentro da saúde, o principal problema apontado foi a falta de médicos
  • As pessoas apóiam as manifestações, mas são contra a violência
  • As pessoas sabem que vandalismo e manifestação são coisas distintas
  • As pessoas tem medo da violência nas manifestações
  • Algumas pessoas não vão em manifestações com medo da violência
  • As pessoas gostariam que houvesse liderança nas manifestações
  • Nenhum dos entrevistados foi nas manifestações
  • Uma geração de jovens da favela nunca foi ao Maracanã, como acontecia com seus pais, pois antigamente o preço era alguns mirréis e hoje é centenas de reais.
  • As pessoas não apontaram violência como um dos top 3 problemas enfrentados

Aprendizados da segunda entrevista, de 16h às 18h30: 10 entrevistados em frente à casa do prefeito Sérgio Cabral.

  • Os manifestantes querem uma liderança.
  • Apesar das pessoas quererem uma liderança nas manifestações, elas tem receio de uma só pessoa liderar o movimento, querem liderança, mas descentralizada
  • Os manifestantes querem lutar sem violência
  • Os manifestantes sabem que querem melhoria na saúde, educação, transporte e corrupção
  • Alguns manifestantes sabem que a saúde, educação e transporte podem melhorar, mas tem dificuldade de dizer ações mais pontuais que deveriam ser pautadas neste momento
  • Os manifestantes sabem que tem que registrar tudo que acontece nas manifestações e criar uma mídia própria, pois a mídia tradicional distorce os fatos.
  • Os manifestantes não abrem mão da sua causa e acham válido a reinvidicação dos outros
  • Os manifestantes usam redes sociais, jornais, mídias sociais…
  • Os manifestantes querem paz, protestar sem violência e com a segurança da polícia, para protege-los dos vândalos

Bom, esses foram alguns dos aprendizados que tive do final da noite de sexta até o final do dia de sábado. Hoje, domingo, teve muito mais, mas vou ficando por aqui, meu vôo já começou a embarcar e a fila já está acabando. Qual a sua opinião sobre isso? Concorda, discorda? O que você aprendeu neste final de semana?

Pitch manifeste.me
Pitch manifeste.me

Não consegui postar porque a fila do avião andou rápida demais e estou postando de Brasília. Aproveitei para incluir uma foto da apresentação do aprendizado do nosso time e do MVP que desenvolvemos neste final de semana, o http://manifeste.me e o concierge que levamos pra rua, o http://vote.manifeste.me . Seu feedback é mais que bem vindo, fique a vontade para criticar ou sugerir o que quiser! Abraço!

O que a Rocinha e o Leblon tem em comum?

Hoje foi o segundo dia de Lean Startup Machine. Está sendo muito maneiro, aprendendo bastante!

Eu e Rafael fizemos um pitch sobre os problemas que o Brasil está vivendo e o porquê das manifestações, tudo para tentar entender quais perrengues os manifestantes estão passando para se mobilizar em prol de uma causa.

É impressionante a velocidade das pessoas encontrarem problemas e proporem soluções hoje em dia. Como o 3G dos celulares dos manifestantes não funciona muito bem durante as manifestações devido a alta concentração de antenas num pequeno espaço físico, as pessoas não estavam conseguido postar os registros do que estava acontecendo em tempo real. Pra isso, alguns moradores próximos às manifestações liberaram seus wifis e alguns manifestantes carregaram roteadores nas mochilas para amplificar o sinal pra galera, incrível né?

Saímos pra rua hoje de manhã para validar alguns problemas e foi muito maneiro. Fomos à Rocinha conversar com alguns moradores e em seguida fomos ao Leblon conversar com os manifestantes que estão acampados em frente à casa do Governador do Rio, Sérgio Cabral.

Na Rocinha, foi unânime que o problema mais urgente é a saúde, principalmente a falta de médicos nos hospitais e as longas filas de espera. Falaram também do absurdo que é a PEC37 e o que mais me marcou foi o depoimento de um senhor que falou que antigamente ia sempre ao Maracanã e pagava apenas alguns mirréis por jogo. Agora, ele não tem condições de levar o filho nem para conhecer o Maracanã, porque os preços dos ingressos estão absurdos. O povo frisou também que apóia as manifestações, mas repudia qualquer ato de violência.

Favela da Rocinha
Favela da Rocinha ligada nos últimos acontecimentos

No Leblon, a pauta era a mesma: saúde, PEC, futebol e violência, sendo este último tema, o que estava sendo evidenciado na frente da casa do Governador. Os manifestantes chamavam atenção para a violência gratuita de alguns policiais em manifestações anteriores, contra alguns manifestantes que protestavam pacificamente. Hoje, tudo estava em clima de paz, e os policiais que estavam guardando o prédio do governador até aceitaram pedaços de bolo de chocolate dos manifestantes em sinal de respeito mútuo.

Foi muito interessante perceber que apesar da distância social entre moradores da Rocinha e do Leblon, ambos estão insatisfeitos com a realidade do país e identificaram no Brasil praticamente os mesmo problemas. Será que é só o Arnaldo Jabor e o Governo que não enxergam?

Já são quase meia noite e amanhã tem mais logo cedo. Vou indo nessa, bom final de semana!

Manifestações nunca dão em nada?

Como o post passado tinha muitos assuntos diferentes e eu queria um post curto, escrevi um pouco de cada um, mas ainda fiquei com vontade de falar mais sobre os protestos que vem acontecendo aqui e no mundo. Neste post quero tentar invalidar uma hipótese: “Manifestações nunca dão em nada!”

Aonde eu disser manifestações, quero dizer passeatas, protestos, manifestações e marchas.

Para invalidar a hipótese, quero trazer um pouco do que aprendi com startups nos últimos 2 anos.  À seguir, vou montar um funil de passos, que em conjunto formam um processo que pode ser usado para transformar o Brasil. Acredito muito que temos as pessoas e os recursos necessários pra criarmos um país melhor!!!

Marcha Contra a Corrupção: 7 de Setembro de 2011
Marcha Contra a Corrupção: 7 de Setembro de 2011

Meu objetivo não é nem defender e nem dizer que sou a favor de manifestações, mas apenas apontar qual o papel que podem cumprir. Não estou dizendo que essa é sua única função, mas apenas uma das.

Segue o seguinte fato: o Brasil tem vários problemas! Acredito que podemos diminuir ou acabar com muitos deles e caminharmos para uma nação com melhor saúde, educação, transporte, qualidade de vida, etc. Para isso acontecer, temos que passar pelos seguintes passos, em que precisamos:

  1. Conhecer os problemas
  2. Querer que os problemas diminuam ou acabem
  3. Priorizar quais são os problemas mais importantes e urgentes
  4. Conhecer quais as diferentes frentes que podem combater o problema
  5. Unir o maior número possível de pessoas para combater o problema
  6. Nos dividirmos para atuarmos cada um na frente que pode ou tem mais conhecimento
  7. Definir métricas e prazos para diminuir ou resolver o problema
  8. Acompanhar os agentes e suas ações para ver se estão resolvendo de fato o problema e no tempo previsto
  9. Revisar os agentes e atitudes necessárias para resolver o problema
  10. Voltar para 1

Note que o passo 10, falo para voltarmos para o passo 1, ou seja, é um ciclo, que deve ser passado de geração para geração, de problema para problema, nunca acaba!

Aonde entram, então, as manifestações? Elas atuam em parte do processo, mais precisamente nos passos de 1 a 5, ou seja, manifestações ajudam as pessoas a tomarem conhecimento dos problemas do país, ajudam a plantar uma semente de inconformação e vontade de mudar, mostram que o país tem coisas muito importantes e urgentes para resolvermos, e ajudam a unir um número imenso de pessoas em prol de uma causa maior, mas sozinhas e isoladas, elas realmente não tem muito efeito. Muitas vezes, as manifestações surgem quando o nível de intolerância da população está cheio e qualquer novo fato que aumente a intolerância, faz as pessoas se indignarem e irem para as ruas, a maior arquibancada do Brasil! E na minha opinião foi o que aconteceu recentemente, os R$ 0,20 foram só a gota d’água e não o real motivo!

Se sozinhas, as manifestações não mudam nada, então a hipótese foi validada? Não! O que elas fazem então? Elas são meios de conseguirmos dar início ao processo de transformação, para chegarmos nos passos de 6 a 10 e fecharmos um ciclo! Ou seja, elas são parte do todo, sem os passos de 1 a 5, não é possível cumprir os passos de 6 a 10 e causarmos a mudança!

Assim, não faz sentido dizer que “Manifestações nunca dão em nada!”, pois elas dão sim, dão início à um processo de transformação, é uma ação por uma causa maior, muitas vezes é a base de tudo! É claro que elas podem não dar em nada, se não houver continuidade de ações que fechem um ciclo, mas não vou entrar no mérito agora se as manifestações que vem ocorrendo aqui no Brasil vai ter continuidade ou não. E você, o que acha? Alguma sugestão para os passos ou o processo?

De longe esse foi o post mais complicado que escrevi até hoje, não consegui cronometrar direito, mas foi algo em torno de 2h30. +10min editando.